quarta-feira, 27 de março de 2013

Manoel de Barros - Documentário

Assistam o documentário: Só dez por cento é mentira - Manoel de Barros


“Tenho uma confissão a fazer: noventa por cento do que escrevo é invenção só dez por cento é mentira.”         

                                         Manoel de Barros

Para relembrar...


Revisando!





O QUE APRENDEMOS SOBRE...
GÊNERO TEXTUAL
TIPOLOGIA TEXTUAL
SUPORTE

Constitui as inúmeras classificações a respeito da materialização dos textos que utilizamos em nossa comunicação. Apresentam padrões sóciocomunicativos definidos por características composicionais, temáticas e linguísticas. Temos muito mais designações para gêneros como manifestações empíricas do que para tipos.


Sequências linguísticas no interior dos gêneros com propriedades especificas (aspectos lexicais, sintáticos, tempo verbal, relações lógicas) que permitem agrupar os gêneros em determinadas categorias: narração, descrição, argumentação, exposição e injunção.

Lugar físico ou virtual que funciona como ambiente de fixação do gênero, agrupado em acidentais: corpo humano, paredes, roupas; e convencionais: livro didático, outdoor, quadro de avisos, revista, televisão, site.

DOMÍNIO DISCURSIVO
GÊNEROS E A TECNOLOGIA
As distinções entre um gênero e outro são funcionais.
Já os critérios para distinguir os tipos textuais seriam linguísticos e estruturais, de modo que os gêneros são designações de sócio-retóricas e os tipos são designações teóricas.
(1) intergenericidade à um gênero com a função de outro
(2) heterogeneidade tipológica à  um gênero com a presença de vários tipos


Indica instâncias discursivas, constituindo as esferas das atividades humanas: discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso, etc.


Os últimos dois séculos caracterizam-se como os séculos das novas tecnologias, principalmente na área da comunicação. O uso destes novos gêneros tem transformado e criado outros, exemplo: carta – blog.
 EXEMPLO: 


Exercitando


Trabalhando com textos







Por corresponderem a usos da língua, a variedade de gêneros é heterogênea e os  limites entre um gênero e outro,muitas vezes são muito próximos. Em alguns casos a diferença principal provém do suporte, como ocorre entre o blog/diário ou telefonema/chat. Mas, na maioria dos gêneros, as diferenças decorrem de seu propósito comunicativo, como no exemplo da receita 1 e receita 2:

a)                  Com que finalidade o texto da RECEITA 2  foi construído?

b)                 Observe a estrutura  das duas receitas: em que elas diferem?

c)                  Qual o efeito produzido no texto perante a escolha de organizar as informações no molde do gênero receita culinária, no texto 2?

DIANTE DA ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS QUE NORTEIAM O GENERO TEXTUAL PODEMOS CONCLUIR SOBRE SUA DEFINIÇÃO QUE... 

Trabalhando com textos



TEXTO 1
Matéria do Jornal da Paraíba
Cidades
Americana usa anúncios no jornal para achar filha na PB
Em Inglês e Português, comunicados informam que americano tem até o próximo dia 15 para retornar aos EUA.
Publicado em 17/02/2013 às 06h00
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Nathielle Ferreira

Uma batalha judicial iniciada nos Estados Unidos, que envolve denúncias sobre maus tratos, abuso sexual infantil e intolerância religiosa, está repercutindo na Paraíba. Nesta semana, os classificados do JORNAL DA PARAÍBA divulgaram dois anúncios com uma notificação feita pela Justiça americana.
Escritos em Inglês e em Português, os comunicados informaram que o americano Russel Carlton tem até o próximo dia 15 para retornar aos Estados Unidos. Apesar de responder uma ação judicial, Russel saiu do país com uma filha de nove anos, sem autorização da família materna da criança.
Comentários postados por ele próprio na internet, indicam que o americano esteja vivendo em João Pessoa. Caso não se apresente à Justiça americana no prazo estipulado, ele será julgado à revelia e ainda terá a prisão decretada.
A determinação para que Russel retorne com a filha aos Estados Unidos foi feita pelo Distrito Judicial do Condado de Anne Arundel, um território pertencente ao Estado norte-americano de Maryland. O caso se tornou público na Paraíba após um escritório de advogados, sediado em São Paulo, ter sido contratado e solicitar o anúncios da notificação judicial.
Os comunicados afirmam que a avó da criança, Lenna Gordon, pediu que o Distrito Judicial do Condado de Anne Arundel decrete a prisão de Russel Carlton por causa do descumprimento a uma ordem judicial feita no dia 24 de abril do ano passado.
A informação de que Russel tenha se mudado para João Pessoa surgiu a partir de um comentário feito pelo próprio pai, no portal do Instituto Educacional Maria do Socorro, uma escola situada na cidade de Patos, a 306 quilômetros da capital paraibana.
Em inglês, Russel elogiou a qualidade do ensino do estabelecimento, afirmou que a filha havia se divertido e feito muitas amizades no colégio.
No entanto, a diretora do colégio, Maria Dutra, assegurou que a filha de Russel nunca foi estudante do colégio. Ela disse que o único contato que os dois americanos tiveram com a escola ocorreu entre o final de maio e início de junho do ano passado, durante uma semana cultural.
“Estávamos promovendo um evento sobre o centenário de Luiz Gonzaga”, lembra a diretora. Ela disse, ainda, que o americano pediu emprego na escola. “Ele disse que queria trabalhar como professor de inglês, mas teria que ser temporário, porque só poderia ficar no Brasil até outubro. Eu falei que não poderia contratá-lo, porque já tenho professores de inglês”, destacou a diretora.


TEXTO 2



QUESTÕES PARA NORTEAR A DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS TEXTOS 1 E 2.
1.     Pelas características visualizadas, responda:

a)        Sobre o que tratam os textos?
b)        Quem são os autores?
c)        Para quem foram escritos, ou seja, quem são os interlocutores de cada texto?
d)       Em qual época e suporte estes textos foram veiculados? Há alguma diferença se fossem em outros?

2.     De acordo com as leituras realizadas, podemos definir a finalidade que se prestam os textos 1 e 2?

a)    Qual o conteúdo abordado em  cada texto?

b)     Observem com cautela os verbos de ambos os textos: em qual tempo e pessoas verbal eles se encontram? Se fossem usados em outra forma teriam o mesmo efeito? Justifique.

c)    A que gênero textual pertence cada um dos textos apresentados?

d)     Em ambos os textos percebemos que os autores tratam de questões polêmicas. Mas apenas em um são utilizadas estratégias de convencimento. Indique qual é o texto e quais os argumentos utilizados.

quarta-feira, 6 de março de 2013

LITERATURA - ESTUDANDO O CONTO "A VACA"


Leia o conto “A Vaca” de Moacyr Scliar:
A VACA
Numa noite de temporal, um navio naufragou ao largo da costa africana. Partiu-se ao meio, e foi ao fundo em menos de um minuto. Passageiros e tripulantes pereceram instantaneamente. Salvou-se apenas um marinheiro, projetado à distância no momento do desastre. Meio afogado, pois não era bom nadador, o marinheiro orava e despedia-se da vida, quando viu a seu lado, nadando com presteza e vigor, a vaca Carola.
A vaca Carola tinha sido embarcada em Amsterdam.
Excelente ventre, fora destinada a uma fazenda na América do Sul.
Agarrado ao chifre da vaca, o marinheiro deixou-se conduzir; e assim, ao romper do dia, chegaram a uma ilhota arenosa, onde a vaca depositou o infeliz rapaz, lambendo-lhe o rosto até que ele acordasse.
Notando que estava numa ilha deserta, o marinheiro rompeu em prantos: ''Ai de mim! Esta ilha está fora de todas as rotas! Nunca mais verei um ser humano!'' chorou muito, prostrado na areia, enquanto a vaca Carola fitava-o com seus grandes olhos castanhos. Finalmente, o jovem enxugou as lágrimas e pôs-se de pé.
Olhou ao redor: nada havia na ilha, a não ser rochas pontiagudas e umas poucas árvores raquíticas. Sentiu fome; chamou a vaca: ''Vem Carola '' ordenhou-a e bebeu leite bom, quente e espumante. Sentiu- se melhor; sentou-se e ficou a olhar o oceano, ''Ai de mim''- gemia de vez em quando, mas já sem muita convicção; o leite fizera-lhe bem. Naquela noite dormiu abraçado à vaca. Foi um sono bom, cheio de sonhos reconfortantes; e quando acordou - ali estava o ubre a lhe oferecer o leite abundante. Os dias foram passando e o rapaz se apegava cada vez mais com a vaca. ''Vem Carola!'' ela vinha, obediente.
Ele cortava um pedaço de carne tenra - gostava muito de língua - e devorava-o cru, ainda quente, o sangue escorrendo pelo queixo. A vaca nem mugia. Lambia as feridas, apenas. O marinheiro tinha sempre o cuidado de não ferir órgãos vitais; se tirava um pulmão, deixava o outro; comeu o baço, mas não o coração. Com pedaços de couro o marinheiro fez roupas e sapatos e um toldo para abrigá-lo do sol e da chuva. Amputou a cauda de Carola para espantar as moscas.
Quando a carne começou a escassear, atrelou a vaca a um tosco arado, feito de galhos, e lavrou um pedaço de terra mais fértil, entre as árvores. Usou o excremento do animal como adubo. Como fosse escasso, triturou alguns ossos, para usá-los como fertilizante. Semeou alguns grãos de milho, que tinham ficado nas cáries da dentadura de Carola. Logo, as plantinhas começaram a brotar, e o rapaz sentiu renascer a esperança. Na festa de São João, ele comeu canjica.  A primavera chegou. Durante a noite uma brisa suave soprava de lugares remotos, trazendo sutis aromas.
Olhando as estrelas, o marinheiro suspirava. Uma noite, arrancou um dos olhos de Carola, misturou-o com água do mar e engoliu esta leve massa. Teve visões voluptuosas, como nenhum mortal jamais experimentou... Transportado de desejo aproximou-se da vaca... E ainda dessa vez, foi Carola quem lhe valeu.
Muito tempo se passou, e o marinheiro avistou um navio no horizonte. Doido de alegria, berrou com todas as forças, mas não lhe respondiam: o navio estava muito longe. O marinheiro arrancou um dos chifres de Carola e improvisou uma corneta. O som poderoso atroou os ares, mas ainda assim não obteve resposta.
O rapaz desesperava-se: a noite caia e o navio afastava-se da ilha. Finalmente, o rapaz deitou Carola no chão e jogou um fósforo aceso no ventre ulcerado de Carola, onde um pouco de gordura ainda aparecia.
Rapidamente a vaca incendiou-se. Em meio a fumaça negra, fitava o marinheiro com seu único olho bom. O rapaz estremeceu; julgou ter visto uma lágrima. Mas foi só impressão. O clarão chamou a atenção do comandante do navio; uma lancha veio recolher o marinheiro. Iam partir, aproveitando a maré, quando o rapaz gritou: ''Um momento!''; voltou para a ilha e apanhou do montículo de cinzas fumegantes, um punhado que guardou dentro do gibão de couro. ''Adeus Carola '' - murmurou. Os tripulantes da lancha se entreolharam. ''É do sol'' - disse um. O marinheiro chegou ao seu país natal. Abandonou a vida no mar e tornou-se um rico e respeitado granjeiro, dono de um tambo com centenas de vacas. Mas apesar disto, tornou-se infeliz e solitário, tendo pesadelos horríveis todas as noites, até os quarenta anos. Chegando a esta cidade, viajou para Europa de navio.
Uma noite, insone, deixou o luxuoso camarote e subiu ao tombadilho iluminado pelo luar. Acendeu um cigarro apoiou-se na amurada e ficou olhando o mar. De repente, estirou o pescoço, ansioso. Avistara uma ilhota no horizonte.
- Alô - disse alguém, perto dele.
Voltou-se. Era uma bela loira, de olhos castanhos e seios opulentos.
- Meu nome é Carola - disse ela.

CONHECENDO O AUTOR...

Moacyr Scliar

Nasceu em Porto Alegre em 1937. Autor de mais de setenta livros em vários gêneros, romance, conto, ensaio, crônica, ficção infanto-juvenil, suas obras foram publicadas em mais de vinte países, com grande repercussão crítica. Recebeu numerosos prêmios, como o Jabuti (1988, 1993 e 2000), o APCA (1989) e o Casa de las Américas (1989). Foi colaborador em vários órgãos da imprensa no país e no exterior. Teve seus textos adaptados para cinema, teatro, televisão e rádio, inclusive no exterior. Foi médico e membro da Academia Brasileira de Letras. Morreu em março de 2011.